domingo, 25 de abril de 2010

Menino de Engenho

Esta obra carregada de memorialismo constrói um retrato com todos os seus matizes da sociedade canavieira do Nordeste através dos olhos de uma criança.
O narrador-protagonista é o menino Carlos, cujo pai foi internado em um hospício após ter assassinado a esposa. Essa orfandade precoce marcou a infância de Carlinho que, apesar de ter vivido todas as alegrias e feito todas as estripulias características de um moleque, era, no fundo, uma criança melancólica, adepta dos cismares solitários a que se entregava enquanto esperava um canário cair em sua armadilha.
Levado para o engenho de seu avô aos quatro anos, logo misturou-se aos filhos dos negros que trabalhavam no Santa Rosa. O tempo da escravidão já havia passado mas, a mentalidade do povo ainda era influenciada pela prática já extinta. Depois da alforria, a maioria dos trabalhadores optou por continuar nas terras do coronel José Paulino - um senhor de engenho bom, carismático e respeitado por todos. Era a ele que os cabras recorriam em busca de proteção, de cura para as suas doenças, de solução para os seus problemas. Resquícios da escravatua resistiam, mas eram comuns para a época.
Carlos era um garoto asmático e pouco religioso, assim como todos os moradores do engenho, e a reclusão devida aos cuidados com a saúde o tornaram um tanto revoltado.
No Santa Rosa, onde o protagonista viveu, conhecemos a figura da Sinhá Totonha - arquivo ambulante das histórias folclóricas fantásticas que encantavam o menino; a tia Sinhazinha - velha rabugenta, mal-quista por todos; Maria Menina - tia de Carlos, filha mais nova de José Paulino, considerada a "princesa" do engenho; o coronel Lula - fazendeiro decadente que mandava a filha tocar piano e falar francês; a velha Generosa - cozinheira da casa-grande que fazia por merecer o nome; e tantas outras.
Entre os episódios narrados estão a morte da prima Lili, tão pequena, tão frágil; a enchente do Paraíba; a visita do cangaceiro Antônio Silvino desiludindo os sonhos do menino; as vistorias pelos sítios do canavial realizadas pelo avô; a moagem da cana e a produção do açúcar; o casamento da tia Maria; a briga entre dois cabras; o primeiro e inocente amor de criança.
E, acostumado a assistir à reprodução dos animais no curral, Carlos começou cedo sua atividade sexual; para desgosto do já adulto narrador. Ele se considera um pequeno depravado e condena as negras Luíza e Zefa Cajá por o terem iniciado neste lado "porco" de sua infância. Aos doze anos, já havia contraído doença-do-mundo (gonorréia) e seu ingresso no colégio foi agilizado. Apesar do orgulho que sentia andando com as pernas arqueadas e por já não ser tratado como criança, acreditava-se que a escola o corrigiria. É a viagem de trem, com todas as despedidas e saudades do engenho que encerra o livro.



Por: Emylie :D

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